DISSEMINAÇÃO DA CULTURA DE CAPITAL ABERTO E PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS COMPANHIAS

Tarefa prioritária da área de Relações com Investidores, a disseminação da cultura de empresa de capital aberto entre os diversos níveis de público interno é reconhecida internacionalmente como a base da pirâmide para o sucesso no mercado de capitais, uma vez que direciona o comportamento de todos no que diz respeito ao ambiente corporativo, ajudando a fixar os conceitos de empresa ética, responsável e transparente.

Consequentemente, contribui para aprimorar o relacionamento da empresa com a comunidade de investidores, analistas de investimentos e com a sociedade como um todo, fortalecendo uma reputação saudável entre os públicos estratégicos.

Tanto o público interno quanto o externo precisam ter convicção a respeito das boas práticas de governança e de seus benefícios para a empresa e para o conjunto dos investidores. Esses profissionais, em contato estreito com investidores, acionistas e analistas, podem representar considerável ganho de valor para a empresa, avaliando as demandas, os desafios e os caminhos a seguir. Boa parte das demandas é apresentada pelos próprios investidores. Para atendê-las, as companhias criam conselhos e comitês independentes, separam as funções do presidente executivo daquelas do presidente do conselho, criam comitês de divulgação de informações (disclosure) e aprimoram sua política de remuneração dos executivos, ou seja, reformulam estrategicamente sua estrutura de governança.

O trabalho de RI deve estar muito próximo ao dos departamentos jurídico, contabilidade, controladoria, assessoria de imprensa, de relações públicas, comunicação, recursos humanos e da alta administração.

Como peça importante para o desenvolvimento da cultura de companhia de capital aberto, são desenvolvidos programas de incentivo por meio da outorga de ações aos funcionários, como o plano de opções de ações (stock options), que contribui para alinhar os interesses dos funcionários aos do mercado e serve como importante ferramenta na composição da remuneração e, consequentemente, na retenção de talentos.

A cultura do mercado exige o aprimoramento das práticas de governança e maior transparência. Essa cultura afasta a ideia da empresa com estilo retraído (low profile) na divulgação de informações em âmbito interno e externo. É preciso ser pró-ativo em todas as áreas e em todos os detalhes da vida corporativa.

Ao se tornarem acionistas, os funcionários tendem a entender melhor o processo de formação de preço das ações e a relacioná-lo aos resultados da empresa e, dessa forma, passam a desenvolver trabalhos que gerem valor para a companhia, de modo com que seja percebido pelo mercado, refletindo em apreciação das ações.

O processo de difusão interna da cultura de companhia aberta exige algumas mudanças importantes em relação a questões de governança corporativa, transparência e comunicação das informações ao mercado e aos órgãos reguladores e autorreguladores.

A área de RI tem responsabilidade crescente na estrutura de governança das empresas e no desenvolvimento da nova cultura de capital aberto.

A mudança de comportamento de uma companhia fechada para aberta é um processo complexo e delicado. Não é tarefa simples sair de um modelo em que predomina a figura do dono ou de um grupo de proprietários para a figura da companhia aberta, que precisa prestar contas a milhares de investidores e analistas cada vez mais exigentes.

A questão cultural ganha dimensão para companhias que estão abrindo o capital, bem como para aquelas que ainda não atualizaram sua estrutura de governança corporativa e de divulgação de informações. Essa mudança cultural precisa ser absorvida no dia a dia da empresa, conforme a nova estrutura é implantada.

Quanto maior a dispersão da base acionária, maior será a complexidade do trabalho do profissional de RI na implantação dessa nova postura corporativa. É necessário administrar esse processo de mudança, uma vez que os funcionários devem compreender como funciona a estrutura com um conselho de administração, quais são as atribuições e responsabilidades dos conselheiros, como se realiza o processo de prestação de contas, como é a fiscalização, a nova regulamentação, nacional e internacional, que orienta a atuação da companhia no mercado, e quais as sanções a que empresa, executivos, conselheiros e o próprio RI estão sujeitos.

Apenas a partir da compreensão integral do conceito e da importância de uma companhia aberta para o mercado e para a própria economia como um todo, será possível alinhar o conjunto da empresa às práticas de colaboração e prestação de informações.

Conceito e importância de uma companhia aberta

  • Decisão consciente – A partir do momento em que a companhia decide abrir seu capital e passa a ter centenas (ou milhares) de novos sócios, passa a ser mandatório para um bom relacionamento com o mercado a consistência no envio de informações e níveis mais avançados de abertura de informações, que permitirão aos investidores ou potenciais investidores tomarem decisões fundamentadas nas informações prestadas.
  • Programas efetivos – Para disseminar essa cultura é importante adotar programas realistas e bem direcionados de educação e treinamento interno a todos os funcionários. A grade curricular precisa conter informações sobre a regulamentação do mercado no Brasil, direitos e deveres dos acionistas e dos administradores, diferenças de tratamento na regulamentação para acionistas controladores e minoritários, composição acionária, normas para divulgação de resultados e comunicação de informações à imprensa etc. Os cursos ministrados dentro das empresas (in company) são um exemplo de como agilizar esse tipo de programa, mas precisam ser ministrados por especialistas reconhecidos pelo mercado.
  • Atualização e informação – A empresa deve incluir alguns aspectos ligados à área de RI nos critérios para avaliação de seu pessoal em determinados escalões da estrutura hierárquica, certificando-se, por exemplo, de que acompanhem as notícias divulgadas sobre a companhia e suas operações no mercado. Elaborar cartilhas internas e programas especiais de recursos humanos é uma alternativa utilizada com bons resultados em diversas empresas.
  • Valor da governança – A cultura de companhia aberta implica obrigatoriamente a divulgação das boas práticas de governança corporativa adotadas pela empresa, assim como a explicação didática de seu impacto, utilizando todas as ferramentas de comunicação interna disponíveis. Respeito ao investidor e ao mercado são os conceitos que estão relacionados a essa ideia e devem ser disseminados junto ao público interno. O objetivo é estabelecer a noção de que a boa governança alinha o interesse de todos os públicos e fortalece a percepção positiva da companhia junto ao mercado.