INTERFACES DA ÁREA DE RI COM INVESTIDORES

Possuir sólidos relacionamentos com a comunidade de investimentos é uma das mais valiosas responsabilidades do RI, ajudando a criar confiança e interesse na empresa. A comunicação com públicos que têm interesses diversos exige uma linha de trabalho que dê ênfase diferenciada para cada tópico tratado. Também há razoável variação nos graus de profundidade e sofisticação na abordagem de cada tema.

Buy-side

Analista buy-side é uma definição que abrange os analistas e os gestores de fundos de investimento. São profissionais que atuam na ponta das negociações e cujos movimentos de compra ou venda, quando associados a grandes fundos, podem afetar as oscilações e tendências do mercado. Cabe à área de RI suprir esses analistas com informações adequadas às suas demandas.

Diversos fatores chamam a atenção dos analistas, como os planos de expansão da companhia, o comportamento das empresas que passaram por processo de fusão e a elaboração de relatórios separados para cada unidade de negócios ou linha de produtos.

No caso da ponta buy-side, o foco é nas tendências de mais longo prazo e, em geral, há maior ênfase nas informações relativas à governança corporativa da empresa, um item que pode influenciar as decisões de investimento. Além disso, esses profissionais demandam contato direto com a alta gerência da companhia e podem atuar como representantes dos acionistas. Para esse público, o RI deve focar as informações sobre tendências setoriais, avanços nos negócios e fatores de risco, lembrando que o objetivo é reduzir o grau de incerteza sobre a companhia.

Cabe ao RI informar o gestor e o analista buy-side sobre os fatores mais relevantes para agregar valor às ações da companhia, suas vantagens competitivas, fundamentos, resultados financeiros e operacionais, que estão intimamente relacionados aos interesses de informação por parte desse profissional, com base no fundo que administra.

Os fatores não financeiros (governança corporativa, reputação, marca, capital intelectual, liderança, responsabilidade social e ambiental, transparência, comunicação e inovação, por exemplo) têm importância crescente na avaliação de uma empresa. A estratégia para a sustentabilidade do negócio é outro tema preponderante, altamente valorizado pelos gestores.

Sell-side

Analistas sell-side são profissionais que atuam em bancos e corretoras de valores fazendo a prospecção de investimentos e recomendando a compra ou venda das ações. Suas demandas de informação, portanto, estão focadas na necessidade de dados pontuais e mais detalhados, o que significa maior exigência de contato constante com a área de RI. Os analistas que atuam como sell-side buscam o máximo possível de disclosure (capacidade de divulgar informações com transparência) da companhia e, assim como acontece no buy-side, também demandam contato com a alta administração.

INFORMAÇÃO DE QUALIDADE É FUNDAMENTO ESSENCIAL PARA QUE O ANALISTA RECOMENDE AS AÇÕES DA EMPRESA. Além das informações básicas, como o desempenho econômico-financeiro, os analistas sell-side querem dados sobre o plano estratégico da companhia, desenvolvimento de novos produtos, melhorias de processos de produção, programa de redução de custos, fortalecimento das relações com clientes, ou atividades de treinamento que tornem os colaboradores mais produtivos. Informações sobre a posição da empresa em relação à concorrência também são solicitadas, o que inclui a sua participação de mercado, assim como o que a empresa está fazendo para manter ou melhorar sua posição no mercado.

Também são informações de interesse os investimentos direcionados para melhoria ou implantação de novas plantas, expansão global, pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos ou possíveis avanços tecnológicos, e a descrição das vantagens competitivas daí advindas. Tudo isso permite que os analistas comparem suas informações com o que é dito por outras empresas.

A partir dessas discussões, o analista tem condições de avaliar quais empresas possuem as tecnologias mais avançadas, os produtos com as melhores características, os melhores custos de fabricação e/ou a maior lealdade por parte dos clientes. É importante que as empresas consigam combinar os aspectos quantitativos e qualitativos ao fornecer essas informações.

Para atuar adequadamente junto ao sell-side, o profissional de RI pode fazer uma avaliação preliminar para identificar a influência desses analistas no mercado. É importante estudar o seu trabalho, pelo menos durante um período suficiente para determinar a qualidade e a abrangência de suas pesquisas, seus interesses específicos e as possibilidades de cobrir a empresa em questão.

Investidores institucionais

Investidores institucionais – fundos de pensão, fundos de investimento (assets), bond holders e fundos de hedge – precisam dispor de um fluxo de informações bem aberto pela companhia para atender à necessidade permanente de dados para basear estratégias de médio e longo prazos.

Esse segmento do público tem por obrigação satisfazer as demandas criadas por seus modelos de alocação de recursos, o que significa maior volume de informações qualificadas divulgadas pela companhia. Esses acionistas detêm elevado patrimônio e são candidatos a comprar volumes mais expressivos de ações, compartilhando algumas vezes do controle do capital. Independentemente de serem acionistas controladores ou não, sua confiança é obtida e mantida com informação de qualidade e atendimento a boas práticas de governança corporativa.

Reuniões constantes entre o departamento de RI e os investidores institucionais são um caminho importante de abertura e atendimento. A equipe de RI deve estar bem informada sobre aspectos que dizem respeito a esses investidores. Isso significa constante atualização sobre as exigências regulatórias, tendências e novas demandas.

Nesse aspecto, o programa de RI tem papel decisivo, trabalhando para detectar as demandas desses investidores e transmiti-las corretamente aos executivos e conselheiros da companhia. Cabe aos profissionais de RI, na outra ponta, corresponder à exigência de transparência e dar atendimento ágil às necessidades dos investidores institucionais. Assim como os gestores profissionais de recursos e os analistas que operam nesse mercado – no cenário nacional ou internacional – os investidores institucionais precisam contar com canais de comunicação ágeis, fluentes, eficientes e desimpedidos, de modo integral.

Investidores pessoas físicas

Os investidores individuais são uma presença crescente e relevante no mercado de capitais brasileiro. Sua participação é essencial para ampliar a base acionária da companhia e a consistência do mercado. São sensíveis a informações sobre dividendos e ao noticiário sobre a companhia em que investem. Exigem atenção particular, principalmente em momentos de maior volatilidade no mercado acionário ou de notícias adversas, quando sua fidelidade a esse tipo de aplicação é posta à prova.

A tecnologia da informação é um instrumento poderoso de contato com o investidor de varejo, que pode ser acessado inclusive por meio de alertas de e-mails.

Os meios de comunicação clássicos são a participação em reuniões periódicas para apresentação dos resultados da companhia, encontros formatados para o varejo, divulgação de informações em sites, chats, boletins impressos e comunicações via e-mail.

Reuniões desenhadas de modo especial para esse público são muito importantes, até para que a companhia possa aferir com maior grau de precisão quais são as demandas existentes. Embora o investidor pessoa física seja bastante receptivo à comunicação por meio de sites e e-mails, não dispensa o contato pessoal para aumentar sua percepção de segurança em relação ao investimento feito ou aos planos de aplicação de seus recursos. É imprescindível, portanto, organizar e estimular reuniões que sigam modelo específico para esse público e que demonstrem ao investidor sua importância para a companhia.

Embora a clareza e a objetividade sejam necessárias em toda a política de RI, essas duas qualidades ganham ainda maior valor no caso de investidores de varejo – em geral, não dispõem de outros canais de acesso ao que acontece na companhia a não ser o da área de RI e o trabalho da imprensa. Aqui, portanto, são duplamente valorizados o atendimento direto do RI aos acionistas e a comunicação impecável com os jornalistas que municiam o público com informações.

Algumas companhias já possuem divisões especialmente dedicadas a investidores de varejo. Dentre os mecanismos mais eficazes de comunicação com esse público, quatro merecem destaque:

  • O site de RI é uma ferramenta de comunicação democrática, equânime e tempestiva e deve garantir que as informações públicas estejam disponíveis e apresentadas de maneira didática e de fácil acesso.
  • Os informativos periódicos que, com linguagem sintética e adequada às necessidades dos acionistas e investidores individuais, são importantes canais de fidelização e atração da base acionária. Geralmente, o investidor de varejo quer receber informações sobre política de dividendos.
  • Reuniões específicas para os investidores individuais, organizadas de modo a estimular o acesso e a frequência da participação e com um roteiro didático de apresentação.
  • Reuniões com analistas de mercado na Apimec, INI, bancos e instituições gestoras de investimentos ou outro tipo de organização. Elas oferecem ao investidor um panorama mais completo graças à opinião e às questões levantadas pelos analistas.

Departamento de acionistas

O departamento de acionistas é uma das principais ferramentas de prestação de serviços utilizadas pelo RI para cumprir sua função como elo intermediário entre a companhia, seus acionistas e demais stakeholders, e em seu relacionamento com o órgão regulador.

Esse departamento deve estar capacitado para assegurar o atendimento aos acionistas por meio da divulgação de informações básicas, como posições acionárias e eventos corporativos, para prestar informações internas e oferecer à CVM dados sobre o perfil dos acionistas.

Geralmente, as companhias contratam instituição financeira autorizada pela CVM para a prestação do serviço de ações escriturais, responsável pela manutenção do livro de registro de ações. Em caso de terceirização, a companhia deve comunicar à instituição contratada as suas principais deliberações societárias, bem como manter os acionistas devidamente informados sobre o acesso a esse atendimento.

O serviço de atendimento ao acionista pode ser totalmente incorporado pela área de RI, internamente, ou pode ser parcialmente terceirizado.

 

EMBORA AS INFORMAÇÕES SOBRE A COMPANHIA SEJAM AS MESMAS, ANALISTAS BUY-SIDE E SELL-SIDE TÊM NECESSIDADES DIFERENCIADAS.

ATENDIMENTO TELEFÔNICO E CONFERENCE CALL SÃO INSTRUMENTOS FUNDAMENTAIS. DEVEM SER OFERECIDOS PELA ÁREA DE RI COMO PARTE DE SUA ROTINA DE ATENDIMENTO A ESSES INVESTIDORES.

A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE RI É CRIAR E ESTIMULAR AS EMPRESAS A INVESTIR EM CANAIS DE COMUNICAÇÃO EFICIENTES COM O INVESTIDOR PESSOA FÍSICA, QUE TEM NECESSIDADES ESPECÍFICAS E SABE COBRAR UM BOM ATENDIMENTO. ESSE INVESTIDOR COSTUMA FOCAR SEU INTERESSE NA POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS DA COMPANHIA, QUE PRECISA SER BEM EXPLICADA.

A INTERNET ASSUME PAPEL PRIMORDIAL NESSE SEGMENTO E CABE AO RI ORIENTAR A CRIAÇÃO E MANUTENÇÃO DE SITES E CANAIS INTERATIVOS QUE ATENDAM ESSE INVESTIDOR DE MANEIRA EFICAZ.

A PARTICIPAÇÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUAL NAS REUNIÕES COM ANALISTAS É UM CANAL PRODUTIVO DE COMUNICAÇÃO. ESTAS DEVEM TER PERIODICIDADE, NO MÍNIMO, ANUAL E UTILIZAR TODOS OS RECURSOS TÉCNICOS DISPONÍVEIS PARA QUE A INFORMAÇÃO TENHA FLUÊNCIA ADEQUADA, DETALHADA E DIDÁTICA.